O azoto, pela mobilidade que apresenta no solo, é um nutriente cuja gestão se torna mais difícil, particularmente pela irregularidade das condições edafo-climáticas portuguesas.
Dado o comportamento biogeoquímico do azoto, a sua gestão no sistema solo-cultura ou solo-rotação de culturas, é algo difícil de realizar com segurança. Por um lado, é praticamente impossível determinar com rigor a quantidade deste nutriente que um determinado solo é capaz de fornecer a uma dada cultura, ao longo do seu período de vegetação activa, e, daí, a dificuldade de calcular o montante adequado de azoto a aplicar através da fertilização. Por outro, o conjunto de transformações a que os compostos azotados estão sujeitos num solo normal conduz à formação de nitratos, altamente solúveis e sem capacidade para serem retidos no complexo de adsorção do solo e, por isso, facilmente arrastados nas águas de escoamento superficial e nas águas de percolação, perdendo-se, assim, para a produção agrícola e, pior que isso, contribuindo para a poluição das águas superficiais e das águas subterrâneas.”
Para além dos fertilizantes minerais, a cultura do milho tem à sua disposição azoto proveniente da mineralização dos resíduos da cultura anterior e ainda o que é libertado pela mineralização da matéria orgânica do solo. No caso de se efectuar a distribuição de efluentes orgânicos, é ainda necessário ter em consideração o azoto libertado, mais ou menos rapidamente, por estes produtos.
A análise da evolução das necessidades da planta em azoto entre o fase das 10 folhas e a floração feminina (sensivelmente 2 meses), mostra que a cultura do milho está então particularmente apta a tirar partido do azoto disponível no solo, dado que o consumo neste período corresponde a cerca de 70% das suas necessidades. Passado este período, a capacidade da planta para absorver azoto diminui, não tirando partido de um teor elevado deste nutriente no solo.
Mesmo que a cultura do milho não seja prejudicada pelo excesso de azoto no solo, a fertilização em excesso aumenta significativamente os riscos de poluição das águas por lixiviação dos nitratos, para além dos acréscimos que implica, nos custos de produção e na susceptilidade a doenças e pragas.
Por razões económicas e ambientais, a fertilização azotada deve ser racional, obrigatoriamente adaptada às necessidades da cultura e à capacidade de disponibilização de azoto pelo solo.
Nesta ordem de ideias, a adubação azotada deve ser estimada à partida e, se possível, acompanhada com correcções ao longo do ciclo cultural.
2. CÁLCULO DA QUANTIDADE TOTAL DE AZTO A APLICAR:
O método do balanço azotado, acompanhado por dados da experiência local, ainda constitui hoje a base mais recomendável para o cálculo da adubação azotada do milho.
A aplicação desta metodologia toma em consideração os seguintes aspectos:
· Necessidades de azoto da cultura do milho - com um carácter previsional, tendo em conta o objectivo de produtividade, que deve estar de acordo com as características da parcela, as condicionantes tecnológicas, as disponibilidades de água e a potencialidade climática da região;
· Fornecimento de azoto à cultura do milho a partir do solo - depende essencialmente da quantidade e natureza dos resíduos deixados no ano anterior, da mineralização da matéria orgânica, dos efeitos da aplicação de fertilizantes orgânicos e do precedente cultural;
· Coeficiente de utilização do azoto aplicado no ano em causa, quer através de fertilizantes minerais, quer orgânicos - o valor deste coeficiente é variável. O fraccionamento adequado, as características físico-químicas do solo, a forma de aplicação do fertilizante e a condução da rega, devem ser factores a ponderar para uma melhoria na utilização do azoto disponível;
· O aumento da mineralização das formas orgânicas de azoto no solo devido à rega;
· O fornecimento de azoto originariamente contido nas águas de rega.
3. AS DIFERENTES FASES DO CICLO CULTURAL E O CONSUMO DE AZOTO:
O ritmo de absorção do azoto varia ao longo do ciclo cultural do milho da seguinte forma:
· Até ao fase das 8-10 folhas, as necessidades são diminutas (menos de 10% do total absorvido), pois as raízes estão pouco desenvolvidas e o solo liberta pouco azoto (devido às temperaturas mais baixas registadas nesta fase do ciclo que retardam a mineralização);
· A partir das 10 folhas e até ao escurecimento das barbas, a absorção é muito intensa (60 a 70% do total absorvido);
· Durante o enchimento do grão, a absorção torna a ser mais baixa (20 a 30% do total absorvido).
Durante o período da Primavera e Verão, o milho beneficia da coincidência entre período mais quente do ano, em que ocorre uma mineralização mais intensa do azoto, e o período em que as suas necessidades de absorção de azoto são mais elevadas.
Em situações em que a mineralização ocorre precocemente (Março/Abril) sem que o milho tenha ultrapassado a fase das 10 folhas, logo sem absorções significativas, existem riscos de poluição das águas por lixiviação, se as chuvas Primaveris forem abundantes. Nestes casos, convém reduzir as quantidades fornecidas em cada adubação, fraccionando-a o mais possível ou utilizar formas de azoto de disponibilização mais lenta.
4. PRÁTICAS ACONSELHADAS:
4.1) Fraccionar a adubação:
· 30 a 50 unidades antes ou imediatamente após a sementeira;
· a restante parte do azoto deve ser aplicado entre as 6 e 8 folhas, numa adubação localizada na entrelinha. Se esta aplicação não for enterrada, é possível fazê-la através de uma distribuição à superfície com nitrato de amónio ou ureia. Deve ser evitado o contacto do adubo azotado com as folhas, pois originam-se queimaduras e consequente redução da área foliar.
É aconselhável fazer uma mobilização do solo a seguir a esta aplicação para evitar as perdas por volatilização (no caso da ureia) e também para que a eficiência do azoto aplicado não seja diminuída. Desde que haja equipamentos que o permitam, é possível aplicar 40 a 50 kg N/ha dissolvidos na água das primeiras regas (fertirrigação).
· Definir um objectivo de produtividade acessível a partir dos rendimentos já verificados na parcela anteriormente:
Por exemplo, se dispuser de 5 anos de referência, poder-se-à considerar como produtividade acessível a terceira maior já verificada. Quando da aplicação de azoto, na fase das 6 a 8 folhas, ajustar-se-à o objectivo de produtividade da seguinte forma:
· aumentando-o, se as condições são muito favoráveis (uma germinação muito boa, parâmetros climáticos favoráveis, etc....), sem todavia ultrapassar o valor da maior produtividade dos cinco anos de referência;
· diminuindo-o, se as condições são desfavoráveis (número insuficiente e irregular de plantas por hectare, disponibilidades de água limitadas, má estrutura do solo, mau estado sanitário das plantas, etc.).
· Determinar as necessidades globais de azoto da cultura, a partir
da relação expedita entre as necessidades em kg de azoto por 1.000 kg (1 tonelada) de grão produzido (no caso de silagem, em kg de azoto por 1.000 kg -1 tonelada- de matéria seca), multiplicado pelo objectivo de produtividade determinado.
Quando a cultura se destina à produção de grão, as normas gerais a reter, relativamente às necessidades em azoto, são as seguintes:
· 22 kg de azoto por 1.000 kg de grão (a 14,5% de humidade), para produtividades inferiores a 10.000 kg/ha;
· 21 kg de azoto por 1.000 kg de grão (a 14,5% de humidade), para produtividades entre 10 e 12.000 kg/ha;
· 20 kg de azoto por 1.000 kg de grão (a 14,5% de humidade), para produtividades superiores a 12.000 kg/ha.
Quando a cultura se destina à produção de silagem, as normas gerais a reter são as seguintes:
· 13 kg de azoto por 1.000 Kg de matéria seca, para produtividades inferiores a 18.000 kg de matéria seca/ha;
· 12 kg de azoto por 1.000 Kg de matéria seca, para produtividades superiores a 18.000 kg de matéria seca /ha.
· Tomar em consideração as disponibilidades do solo: devem ser tidas em consideração as referências técnicas locais, isto é, se existirem dados disponíveis relativos a ensaios efectuados na região, deverão ser tomados em consideração os fornecimentos de azoto medidos em parcelas testemunha (nas quais não se verificou qualquer adição deste nutriente). Consegue-se assim chegar a valores tipo para cada situação.
Na falta de um método de determinação rigorosa da quantidade de azoto que o solo é capaz de disponibilizar à cultura do milho, estima-se que, em média, para Portugal a quantidade de azoto mineral disponível anualmente será da ordem de:
· cerca de 20 kg N/ha por cada unidade percentual de matéria orgânica da camada arável, para solos de textura fina;
· cerca de 30 kg N/ha por cada unidade percentual de matéria orgânica da camada arável, para solos de textura grosseira.
· Estimar o coeficiente de utilização aparente dos adubos minerais.
Através de estudos realizados em França, foi concluído que quanto mais tarde forem aplicados os fertilizantes minerais, melhor decorre a utilização pelas plantas de milho (coincidência entre a fase de aplicação e correspondente disponibilidade no solo e a época de maiores necessidades de absorção pela cultura).
Em média, 80% das quantidades de azoto fornecidas pelo adubo, se na forma mais apropriada, são utilizadas pela cultura, no caso da aplicação ocorrer na fase de 6 a 8 folhas.
· No caso da cultura ser regada, ter em conta as quantidades de azoto fornecidas pela água de rega, até ao escurecimento das barbas da maçaroca. Por exemplo, 20 regas de 30 mm (litros/m2), com uma água que contenha 30 mg de nitratos por litro, fornecerão cerca de 40 kg de azoto (N) por hectare.
· Avaliar as quantidades de azoto aplicadas através dos fertilizantes orgânicos.
· Importa conhecer o volume, quantidade e frequência das aplicações. O valor do coeficiente de utilização do azoto amoniacal dos chorumes é sensivelmente o mesmo dos adubos minerais. Assim, para a determinação das quantidades a aplicar de um chorume de porco, por exemplo, basta ter em consideração o seu teor em azoto amoniacal. Nas aplicações de fertilizantes orgânicos, e sobretudo de estrumes, nunca se devem negligenciar os efeitos secundários acumulados de adubações anteriores, pois a transformação de azoto orgânico em formas absorvíveis pelas plantas é normalmente um processo lento e progressivo. Pode até acontecer, em casos de fortes fertilizações orgânicas, que o azoto utilizável que esteja no solo, proveniente de aplicações de estrume de anos anteriores, seja superior ao disponibilizado a partir da aplicação de fundo desse mesmo ano.
· Para a aplicação de chorumes em adubação de fundo, a utilização simultânea de um retardador de nitrificação permite uma melhor valorização do azoto para a cultura do milho.
· Assegurar uma regulação adequada das máquinas de distribuição.
· Vigiar a uniformidade do espalhamento, controlando as regulações do material utilizado, particularmente quando se aplicam fertilizantes orgânicos (chorumes e estrumes);
· Enterrar o chorume na entrelinha, se a aplicação ocorrer após a germinação das plantas;
· Escolher boas máquinas de distribuição e fertilizantes de qualidade.
5. PRÁTICAS A EVITAR:
· Evitar apontar sistematicamente para o mesmo objectivo de produtividade, não adaptando a fertilização ao efectivo potencial produtivo das parcelas, e mesmo dentro da mesma parcela;
· Evitar apontar para a produtividade mais elevada, esquecendo as restrições existentes, nomeadamente as tecnológicas;
· Não ter em conta os eventuais acidentes que ocorram até ao fase das 6 folhas, para modular as adubações seguintes e não rever em baixa os objectivos de produtividade;
· Subestimar as quantidades de azoto fornecidas pelo solo e pelos fertilizantes orgânicos;
· Evitar aplicar todo o azoto à sementeira, ao invés de um fraccionamento de acordo com o ritmo de absorção da planta de milho;
· Evitar contar com o azoto para ultrapassar todos os acidentes ou erros de condução da cultura;
· Evitar considerar as parcelas de milho como as únicas passíveis de receber chorumes, estrumes e lamas de depuração;
· Evitar aplicar doses de adubação orgânica conducentes a fornecimentos totais de azoto superiores às necessidades da cultura do milho, mesmo não aplicando fertilizantes minerais;
· Na fase de 6 a 8 folhas, evitar aplicar chorumes a lanço sem realizar de seguida uma operação de enterramento do adubo - as perdas por volatilização ou escorrimento podem ser muito importantes;